Para encarar a maravilhosa e surpreendente Belém, capital do Pará, você precisa de protetor solar – encostada na linha do Equador e com temperatura variando entre 24 e 33 graus o ano todo -, guarda-chuva – é a capital mais chuvosa do Brasil-, estômago forte – tem comidas com nomes e sabores exóticos, nunca antes experimentadas – e a mente aberta para curtir essa que talvez seja a cidade mais ‘diferentona’ do país e uma das que mais amo!
Neste roteiro de 4 dias perfeitos na cidade, preparado com muito carinho por mim e pelo meu grande amigo Yuri Núñez, paraense da veia e dono da maioria dessas fotos lindas, pensamos em uma viagem começando em uma quinta-feira e terminando no domingo, que são os dias mais fáceis para se mesclar o essencial em termos de baladas, gastronomia e programação cultural. Bora lá, mana(o)?!
Apesar de Belém ser uma cidade bem antiga, com seus 403 anos nas costas, costumo dizer que o melhor lugar para se dar as boas-vindas à capital paraense é na Estação das Docas (seg/ter 10h-0h; quarta 10h-01h; qui/sex 10h-02h; dom 09h-0h), um marco de uma cidade que também sabe ser moderna sem perder suas tradições, e com uma miscelânea de coisas a fazer (e o ar condicionado mais potente da cidade).
Estação das Docas – Belém (PA)
Inaugurado nos anos 2000, os três antigos armazéns da área portuária de Belém se transformaram em um complexo cultural, gastronômico e de compras. Têm apresentações de danças típicas, teatro ao ar livre e filmes fora do circuito comercial (programação completa aqui).
No segundo andar dos armazéns há lojas de produtos regionais, desde perfumes até biojoias (destaque para as de semente jarina, conhecida como o marfim da amazônia) e artesanato mais sofisticado, que valem ao menos uma olhadinha.
Quer mais compras? Então dá uma olhada nos quiosques do térreo, localizados entre um restaurante e outro, onde a Juruá, criada em 1914, vende produtos de beleza preparados com plantas típicas amazônicas e a Bombom do Pará os saborosíssimos chocolates regionais (os de cupuaçu e de castanha do pará inteira são os mais marcantes – R$ 2,50 e R$ 3 a unidade, respectivamente).
Se quiser começar já encarando a diversidade culinária, o Restaurante Lá em Casa serve – entre diversas opções regionais – o Menu Paraense (R$ 80 pra uma pessoa, mas que serve bem duas), um tipo de menu degustação com pequenas porções de alguns pratos típicos locais, como pato no tucupi, maniçoba, feijão manteiguinha, patinha de caranguejo empanada, farofa de pirarucu e sorvete de cupuaçu como sobremesa. Vale cada centavo!!!
E por falar em sorvete, já temos a dica da segunda sobremesa do dia, após a sobremesa do almoço (Belém é assim), na famosa sorveteria Cairu, excelência em sabores regionais (R$ 8,50 a casquinha ou o copo com uma generosíssima bola). E lá vem mais nome diferentão: uxi, muruci, bacuri, taperebá, sapotilha, e os já nacionalmente famosos açaí, cupuaçu e castanha do pará. A boa notícia é que dá para experimentar um pouquinho de cada um antes de decidir qual escolher, mas o carimbó (castanha do pará com doce de cupuaçu) normalmente é o que mais conquista o paladar dos visitantes. Mas, vou te falar, as tortas sorvetes da Gelateria Damazônia, no mesmo complexo, também não deixam a desejar.
Sorvetes Cairu
Ah, e o grande detalhe é que na Estação das Docas você tem o primeiro contato com a vibe amazônica da cidade, com uma panorâmica da Baía de Guajará e das ilhas totalmente preservadas nos arredores de Belém, com suas copas das árvores quase uniformes, sutilmente desalinhadas em um ou outro ponto por uma majestosa samaumeira (a maior árvore da Amazônia, podendo atingir até 60m de altura – tem uma na Ilha do Combu, falaremos sobre esse passeio mais adiante).
Se der sorte e o céu estiver limpo (coisa rara em Belém) dá pra ver o sol se pondo como uma bola de fogo por trás da copa das árvores. E se você não estiver com um dos inúmeros sabores de sorvetes na mão esperando por esse momento, preencha esse vazio com um dos seis tipos de cervejas da Amazon Beer, a única cervejaria 100% artesanal do Pará, petiscando alguma entrada do cardápio com nome diferente.
Depois dessa primeira maratona gastronômica paraense, esqueça a janta (que a fome não dará sinal tão cedo), descanse um pouco e coloque uma saia rodada, pois quinta-feira é dia de Lambateria (ingressos de R$ 15 a R$ 25, dependendo da antecipação da compra), a balada mais regional de Belém, onde você vai queimar todas as calorias balançando o corpo ao som de guitarrada, carimbó, cumbia, lambada e tecnobrega.
Os ritmos podem parecer um pouco esquisitos para quem não está acostumado, por isso o ideal é se soltar e tentar arriscar uns passos com os locais, ou observar com curiosidade o molejo do belenense.
Pôr do sol em Belém
Imaginando que a noite foi animada, vamos começar devagar com uma visita guiada ao Teatro da Paz (ter-dom de 1h em 1h, a partir das 9h – R$ 6, com meia entrada para estudantes e quarta é gratuito para todos), um dos grandes símbolos do período conhecido como Ciclo da Borracha, quando Belém viveu um grande crescimento econômico e exalava riqueza, surpreendendo os visitantes de outras partes do país.
A construção foi inspirada no Teatro Scalla (em Milão, Itália) e é cheio de detalhes interessantes, bem explicados pelos guias.
Após a visita, ao lado do Teatro da Paz está a atração mais novinha de Belém e uma boa pedida para o almoço, o Bar do Parque. Hoje misto de bar e restaurante, o local funcionava antigamente como bilheteria do teatro ao lado, e foi recentemente restaurado, tornando mais moderno e valorizado esse pedaço histórico da cidade.
Um bom custo benefício é o prato executivo de filé mignon grelhado ao molho de queijo acompanhado de risoto de jambu (a ervinha amazônica que dá uma leve sensação de formigamento nos lábios e na língua – R$ 23).
Aproveitando que está por ali, não deixe de fazer um registro do túnel de mangueiras no calçadão da Praça da República. As árvores, nativas da Índia, são centenárias e estão espalhadas por uma boa área da cidade, formando túneis naturais que amenizam bastante o calor equatorial, mas na Praça da República se tem o melhor ângulo. Só é bom tomar cuidado para não levar manga na cabeça, previamente anunciada com um rápido estalar dos galhos. Nessa hora você corre, ou espera a manga cair e a leva pra casa, hábito bem comum entre os locais.
Saindo das imediações da Praça da República e caminhando pela Avenida Nazaré, você vai ter uma boa ideia de como as mangueiras contribuem para o conforto térmico da cidade, e é durante esse agradável passeio que você vai encontrar algumas atrações que não podem ficar de fora da viagem.
A primeira é a Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré, uma belíssima igreja que serve como ponto de chegada da colossal procissão do Círio de Nazaré (todo 2º domingo de outubro). Na praça em frente há duas samaumeiras (lembra dela?) onde, nos fins de tarde, costumam haver revoadas de periquitos adaptados à vida urbana.
Vitória-régia no Parque Botânico Emílio Goeldi
Alguns quarteirões adiante, o Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi (ter-dom de 9h às 17h – R$ 3, com meia entrada para estudantes) é uma área de floresta amazônica preservada no meio da cidade, mesclada com um pequeno zoo com animais nativos da Amazônia, além de espaço para exposições e um pequeno aquário com espécies de água doce da região.
Entre uma caminhada e outra, é possível experimentar alguns pratos típicos em tradicionais barraquinhas e quiosques de rua, uma forma simples e autêntica de vivenciar a cultura do belenense, que não dispensa um tacacá, um vatapá paraense ou uma maniçoba servidos nas calçadas (e esses são os melhores). Não faz nem ideia do que leva cada prato desses? Senta que a “tia” da barraquinha te explica tudo, e ainda te deixa experimentar.
Caiu a noite, e se você quiser “sextar” exoticamente, corre para o boteco Meu Garoto e pede uma dose de cachaça de jambu (de novo a ervinha da dormência – R$ 6 com um caldinho de frango). Alguns não sentem os lábios e a língua, outros reclamam que não param de salivar, tem gente que só sente um leve formigamento. Vale o teste pelo menos uma vez na vida. Se quiser algo mais comum, a cachaça de coco é delicinha, e também têm cervejas locais (a Tijuca costuma ser a mais elogiada).
Tacacá paraense
Sábado é dia de feira, então partimos ao Ver-o-Peso, que talvez seja a atração mais icônica de Belém. Não é dos lugares mais bonitos e o nível de higiene da ala de comidas pode ser duvidoso, mas lembra de um dos instrumentos indispensáveis para visitar Belém? Então abra a sua mente e perambule pelos corredores de artesanato local, dos inúmeros quiosques servindo peixe frito com açaí, das frutas de diversas cores e texturas, dos vários tipos de farinha de mandioca, castanhas, dos camarões salgados de todos os tamanhos, das dezenas de espécies de peixes, dos temperos, dos sucos de frutas regionais batidos na hora e das feitiçarias para tudo quanto é coisa na vida – só vá!! No final, a sua galeria de fotos do celular estará um mosaico de cores. Linda diversidade, não?
Ver-o-Peso
O almoço é na Ilha do Combu, uma ilha em frente a Belém, alcançada por cerca de 10 minutos de travessia de lancha pelo Rio Guamá (R$ 7 por pessoa, cada trecho). É recomendado pegar um uber (ou táxi) até a Praça Princesa Isabel, de onde saem as lanchas, pois os arredores não são muito convidativos.
A ilha está coberta por floresta, com a presença de pequenas comunidades ribeirinhas que vivem do extrativismo e pontuada em suas margens por vários restaurantes. Chegando no ponto de partida você informa para o condutor da lancha o nome do restaurante onde irá desembarcar. Apesar dos preços salgados, o Saldosa Maloca (com L sim, não sei o porquê) é interessante porque tem uma curta trilha na mata até uma samaumeira gigantesca que impressiona a todos e rende boas fotos. O Elohim Restaurante do Tatu costuma ser mais econômico e está localizado no furo (pequeno rio) que corta a ilha, dando a sensação de estar mais dentro da floresta.
Peça algum peixe de água doce do cardápio e, aproveitando que está na ilha, é uma boa hora para a degustação do símbolo gastronômico do Pará, o açaí. A ilha possui uma grande produção e a polpa do fruto será servida fresquinha. E se tomar o açaí acompanhado de peixe frito, charque e camarão salgado é exotismo demais, fique sabendo que essa não é a única forma que o paraense considera como tradicional, e existe uma outra grande parte da população que toma o açaí na tigela, como sobremesa após a refeição, apenas adoçado com açúcar. Só não vale granola e leite em pó, tá bom? (pelo menos não lá no Pará.. rs).
Peixe com açaí
Outra grande estrela da ilha é o cacau e o chocolate artesanal produzido dele, pela Dona Nena. Você pode combinar com os barqueiros e ver tudo de pertinho, inclusive experimentar e comprar os produtos (o brigadeiro com nibs de cacau é delicioso), só não perca a hora de voltar para Belém a tempo de ver outra atração encantadora, o Mangal das Garças.
Brigadeiro vendido na ilha do Combu
O complexo do Mangal das Garças (ter-dom, das 9h às 18h) contempla um viveiro de aves, um borboletário, um píer sobre o Rio Guamá, o museu da navegação, um dos mais gostosos restaurantes de Belém (o Manjar das Garças) e um farol.
O ideal é chegar no fim da tarde para não passar muito calor, pois apesar de ser um parque e ter um paisagismo muito bonito, as árvores não fornecem muita sombra. Além disso, às 17h30 as garças que vivem livres no local são alimentadas, e o visual é bonito de se ver. Com a luz do entardecer você também terá belas fotos das penugens vermelhas supersaturadas dos guarás (outra espécie de ave que pode ser vista no parque)
Subir no farol também é imperdível (R$ 5), e você deve priorizar essa atração. A vista do paredão de prédios de Belém de um lado e do riozão de água doce + floresta do outro é um bonito contraste sustentável.
E, como não poderia deixar de ser, voltamos a falar de comida (Belém merece, gente!). Em uma viagem, por mais econômica que seja, gosto de reservar um dia para conhecer aquele restaurante mais estrelado da cidade e pagar muito bem para ter sensações incríveis. Em Belém, esse lugar se chama Remanso do Bosque (fecha às segundas), dos irmãos Thiago e Felipe Castanho. Sugiro comer por lá uma coisa que você não deve deixar de experimentar antes de sair da cidade, que é o Filhote, espécie de peixe de água doce encontrado somente na Amazônia Oriental, e que, para muitos, está no topo dos melhores – pra mim, inclusive!! O Filhote com Feijão Manteiguinha do Remanso é incrível (R$160, muito bem servido para dois, vale cada centavo). As sobremesas também são fantásticas!
Filhote com Feijão Manteiguinha do Remanso do Bosque
Último dia em Belém e a gente termina onde a cidade começou, no Forte do Presépio (sábado e domingo das 9h às 13h – R$ 4, com meia entrada para estudantes). Aqui os portugueses fundaram a cidade, em um complexo denominado Feliz Lusitânia, composto além do forte, pelo Museu de Arte Sacra e Igreja de Santo Alexandre (R$ 6, com meia entrada para estudantes), Casa das Onze Janelas e Catedral da Sé.
No forte, o Museu do Encontro expõe material encontrado nas escavações realizadas durante a última restauração do local, além de acervo indígena e sobre a colonização portuguesa na região.
A Casa das Onze Janelas já abrigou um dos melhores restaurantes da cidade, mas atualmente serve de espaço cultural para exposições temporárias. O que vale mesmo é contemplar seu bonito paisagismo na beira da Baía de Guajará.
O Museu de Arte Sacra possui um vasto acervo, mas mesmo para quem não se interessa pelo assunto, a visita vale pelo prédio histórico em si.
Forte do Presépio
A Catedral da Sé é imperdível, linda e envolvente. Você pode descansar as pernas observando suas pinturas ou ouvindo sua história contada por um dos guias que às vezes estão por ali e se convidam a apresentá-la.
Já fora do complexo, mas bem pertinho, o Museu do Estado do Pará (ou Palácio Lauro Sodré – R$ 4, com meia entrada para estudantes) é um lindo prédio com mobiliário e pinturas dos séculos XIX e XX.
Para almoçar nas redondezas, o Restaurante Palafita é um bom custo-benefício, e a partir das 16h se transforma na maior balada à beira rio da cidade, com público e música diversificada (confesso que é um dos lugares que têm meu coração na cidade).
Catedral da Sé
Como domingo é o dia das festas em bares de beira de rio em Belém, existem também opções mais voltadas para públicos específicos, como o Porto Solamar, para os regueiros e o Espaço Fuxico, mais frequentado pelo público LGBT+.
E ai, o que acharam? Deu vontade de conhecer Belém? Se você ainda não foi, só vá! É uma experiência incrível! Veja mais fotos clicando nas imagens a seguir 😉
Quer ficar por dentro de mais roteiros maravilhosos no Pará? Clique aqui e veja nosso post sobre o que fazer na famosa ilha de Marajó!
Parabéns Anny, segui seu roteiro à risca e o mesmo é completo e racional , me ajudou bastante . Obrigado
Que ótimo!! Fico muito feliz com esse retorno!! <3 Belém é incrível!!
Excelente roteiro e descrição. Amei, ajudou bastante a planejar a minha próxima e primeira viagem à Belém. Valeu!
Que bom que gostou!! Depois conta pra gente o que achou dessa bela cidade! <3
Anny, adorei o roteiro e irei seguir o roteiro, estarei em Belem no final de março e gostaria de saber se você tem dicas de onde (hotel/pousadas) de onde ficar.
obrigada!
Ei, Karol!!!
Se for alugar Airbnb, os melhores bairros são Umarizal, Nazaré e Batista Campos.
Hoteis bem centralizados e que dão pra fazer muita coisa a pé ou a curta distância de Uber: Hotel Grão Pará, Mercure Belém Boulevard, Ibis Style Batista Campos e New Inn Batista Campos.
Se preferir Hostels, podemos sugerir o Grand Hostel (no centro, perto de atrações históricas) e o Mama Hostel (numa avenida mais moderna da cidade, perto de shopping, supermercado, restaurantes e bares).
Aproveite bastante sua estadia por lá e depois conta pra gente o que achou 😉
Boa viagem!